Os Jardins - Colheita da Observação da Vida
Os sons da palavra escrita podem ser suaves como a poesia e duros como a realidade que nos cerca. Creio que poesias podem ecoar e transcender, ao mesmo tempo que podem gritar e promover. Sônia C. Prazeres
segunda-feira, 27 de março de 2017
sábado, 24 de janeiro de 2009
Rogativa
Ora pro nobis, natureza nossa
Mesmo no seio da agonia em que reluta,
Que o homem, de discursos, sabe tanto...
Contenda em consciência pouca e natureza bruta.
Ora pro nobis, mãe tão desprezada
Por tantos que, de consciência tem tão pouco
É tua a paciência de quem vem abençoando
Cobrindo de belezas quem reage feito louco.
Ora pro nobis, natureza imensa
Que traz em chagas sua própria essência,
Por conta de quem anda em desatino.
Sem ofertas, sem pudores, sem amor
Destrói o sonho em pele de sonhador
E aos poucos aniquila o seu próprio destino.
Sônia C. Prazeres
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Via Sacra
Via Sacra
Diminuo a velocidade
Sigo atenta ao que desorienta
E fora da noção de cidade.
Observo o caminhante que encosta
Deixa do lado a carroça
E busca papel, tenta lata.
Pergunto algo e ele vem
Cheio de conversa e presteza
A informação faz sentir-se
Gente...
Se pergunto seu nome aí!!!
Nossa nem fale! Seus olhos brilham.
Agradeço a delicadeza e ele vai
Todo dia, mesma hora,
Os filhos pra escola
E ele...,
A avenida grande demais
A carroça cheia demais
O pagamento pequeno demais
A bebida fraca demais
E todo dia, diminuo a marcha
Reparo nos passos
E faço que passo.
Sônia C. Prazeres
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Fome
Fome
Há fomes de crescimento
De saber, de entender...
Há fome que é argumento
Para ser ou parecer.
Há fome que espera alimento;
Pequeno esse tormento
Só vontade de comer.
Dura é a fome que já desistiu
Que dorme e acorda roendo
O que o corpo já construiu.
Cruel é fome que assiste
A fome dos filhos que tem
Doe estômago, dói alma
Corpo fica enfraquecido
E o coração no desgosto
De ver virar pele e osso
As vidas...os corpos que concebeu.
E não consegue ter força
Esperança de Zé-ninguém
Faltam sonhos, sobram retalhos,
E embala o fato nos braços
De pele e osso também.
De saber, de entender...
Há fome que é argumento
Para ser ou parecer.
Há fome que espera alimento;
Pequeno esse tormento
Só vontade de comer.
Dura é a fome que já desistiu
Que dorme e acorda roendo
O que o corpo já construiu.
Cruel é fome que assiste
A fome dos filhos que tem
Doe estômago, dói alma
Corpo fica enfraquecido
E o coração no desgosto
De ver virar pele e osso
As vidas...os corpos que concebeu.
E não consegue ter força
Esperança de Zé-ninguém
Faltam sonhos, sobram retalhos,
E embala o fato nos braços
De pele e osso também.
Sônia C. Prazeres ©
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Consciência
Consciência
Aquietar-me a mim, gritar-me aos ouvidos!
Ouço os campos que não tenho, as avenidas doentes
Ouço meus sonhos e rio deles
Ouço meus danos e sou inteira!
Gritam-me as favelas, as calhas furadas
Grita-me a vida imensa de cotovelos inchados
Cega-me o peito à hora brilhante da lua
Gela-me o peito à hora morna do sol.
Aquietar-me a mim grita-me aos ouvidos
Como se meus intentos fossem acústicos
E assim, quedada a medo,
Sorridentes vultos sussurram-me impotência?
...escarnecedores...indolentes.
E tudo gira à volta como o carimbo
De eu mesma a acalcar,
Hora na almofada dos sonhos,
Hora na dureza de cada fato a conformar
ciência.
Sônia C. Prazeres
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Cogitando
Cogitando
Qual a força da nossa indiferença?
Quanto nos move a dor da carne dilacerada
da criança relegada à pobreza de amor
à ausência de pão...
à miséria das guerras cotidianas?
Qual a força da ostentação e das fardas
fartas de glória e gemidos
fartas de dores por dentro, essas fardas...
noutra espécie de degredo
vê-se monstro e inteiro medo.
Qual a força que empregamos na paz?
Quantos Gandhys, Budas, Mdrs Teresa...
quantos Chicos? Mandelas, quantos?
Quantas mãos arregaçam as mangas para
brigar pelo amor num gesto doce, profundo?
Entre um filme humanitário e o violento,
quantos dos olhos nossos ainda são mais o segundo?
A paz dá sono, entedia...
E ridentes, somos a turba torcendo incerta,
escolhendo, ovacionando as dores alheias-nossas
baixando ainda, o polegar de César.
Sônia C. Prazeres
terça-feira, 1 de julho de 2008
Apelo
Apelo
Para que os sinos toquem nos templos interiores
Para que se perceba os delírios e as dores;
Para que a fome seja somente opção... jejum,
Para que se converta a palavra oca
Em olhares, em versos mudos de atenção.
Para fazer emergir da miséria um grande homem;
Para que mudemos na raiz, em espírito!
Para que não erijam mais palanques
No centro das praças gritantes,
Enquanto ronda a miséria pelas esquinas.
Para que não ponham preço de coca nos nossos infantes
Para que não se vendam mais tenras meninas,
Nosso grito incessante, entoado, levado,
Lavado de amor eterno com ou sem poesias
Cheio de esperança nas rimas amenas...
Para fazer crescer as almas pequenas.
Sônia C. Prazeres
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