quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Voz e Eco 84

Voz - 84

Brota, em ramo, da terra
Olhos mirrados de sede,
Selado, vendado e devoto.

Não se rega, nem se nota
Não se cria nem se morre!
Chão é mãe, não adota
Chão é pai, nem socorre.

Brota, seco, entre as pernas
Ventos há que semeiem
Ninguém planta nem colhe
Se pesar que apeie
Se chover que se molhe.

Que importa?
Pois brotou, que se cuide!


Gustavo Schramm

Eco - 84

Para esta crueza, calo.
Calo a boca de vergonha,
Calo nos pés dos eleitos.

A quem não nego, renego
Não sou água nem alimento.
Brota erva, nem daninha
Nem ungüento...

Ventos que causam
Se espalham, se desnorteiam;
Ninguém colhe, acolhe ou recolhe
Nem tento.
Se chover, se lamenta.

É frio?
Que venha o sol que isso esquenta.

Sônia C. Prazeres

Casinhas no morro

Casinhas no morro

Reflexo torto
De verba perdida...extorquida.
Casinhas de gente que insiste
E canta contente
Batuca e labuta
A vergonha da gente.
Casinhas pintadas, caiadas
Suspensas, mal equilibradas.
E a chuva que lava
Que rega o plantado
É perigo eminente gritado
Por todo canto ecoando.
Caiu trovoada,
Entornou enxurrada,
E quantas casinhas
Das gentes alegres
Das pernas fortes
E esperança sem morte,
Vão desabar das encostas
Deixando luto à amostra
Da cidade que passa
Distraída das coisas do alto
Entregando apatia
No ronco dos carros...
No véu de fumaça.

Sônia C. Prazeres ©