terça-feira, 27 de novembro de 2007

Motivos


Motivos

Diferenças controversas
Igualdades desprezadas
Anseios por escaladas
Receios de decair
Maus tratos descabidos
Orgulho, vaidade,
Temores que a usura encerra;
Lutas sem hombridade
Egoísmo, senhor da guerra!

Sônia C. Prazeres

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Quando


Quando

Quando outro vem...
Mais um metrô carregado de gente
Mais um caminhão cheio de gado...
Mais um avião acima, de repente,
Quando outro vem...
Mais um ônibus lotado
Mais um tropeço nas filas do mercado
Mais um débito no rombo bancário.
Quando outro vem...
Mais um motim no meio presidiário
Mais um festim - homenagem vazia
Mais um complô de político des-armado,
Pouso os olhos cansados
No que calo e deveria gritar,
No que ralo, falo e deveria calar
No que era vida, entretanto,
Vive a virar desencanto.

Sônia C. Prazeres

sábado, 17 de novembro de 2007

Repara


Repara

Põe os olhos no menino
Que corre e se desvencilha
Olha bem! Parece uma trilha
Um caminho que se avizinha

Põe os olhos na menina
Deposita tuas armas,
E vê se não te fascina
A infância que ainda guardas.


Matreiro, fútil, suarento
Risadas ecoam felizes
Vigor, alegria, contentamento!
Pulsa vida nestas matrizes.

É a sorte sondando o terreno
Entra nele com teu abraço... Vês?
Já traz dentro dele o adulto
Pra te entregar outros braços.


Sônia C. Prazeres

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Roncou de fome



Roncou de fome
O estômago sem nome
Dos olhos brilhantes
Da menina estonteante
Que nem percebem que é linda!
Olhando-se bem de perto
Parece aquela, retinta
Que inda ontem na tela
Surgia alegre e bonita!
Mas essa não,... não tem nome
Não brilha na televisão
Nas passarelas da moda...
É magra e linda escondida;
E a saradinha barriga
Ronca, mas é de fome.

Sônia C. Prazeres 

Seca

Seca

Espelho fendido
Rostos rachados
Olhar descuidado.
Terra trincada da seca
Semblante ressecado
Sem terra, sem viço
Versão pra miséria
Descaso que vem de outro lado.
Telefone do toque sem som
Só treme, ninguém atento ou atende;
E a terra se racha em busca de água
Mas lágrima é salgada...

Sônia C. Prazeres

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Contador de Histórias


Contador de Histórias
Veio num dia escuro, daqueles que dão tristeza Encontrou inseguros olhares baixados por trás da mesa Nos pratos água e farinha; nem alegria, nem norte. Mas veio falar de vida de mundo modificado Emprestou mil esperanças contando o que tem encontrado. Veio dizendo que viu gente triste acalentada Gente pobre bem cuidada e fome passando longe. Viu crianças sorridentes de brilho no olhar contente Vendendo saúde aos montes e aprendendo de tudo que há; Que viu irrigadas terras onde a seca castigava Que não tinham mais enchentes, que foi terminada a miséria Ninguém mais se maltratava, eles tinham que acreditar. E ali, a platéia muda boquiaberta e estarrecida Mal segurava a saliva que lhe brotava na boca. Gosto doce esse de vida de direitos aproveitados Respeitados pelos homens, não por lei, mas por amor. Dizia o moço que tinham que ter coragem, Que não cansassem da espera porque tudo vinha chegando Ali, na mesma viagem, por meio de que ele viera; O comboio vinha atrás. Contou que correu na frente Trazendo a notícia depressa no afã de vê-los contentes. Platéia de olhares tristonhos que engole a saliva e sonha Sorri agora entre dentes e começa a acreditar; "É que sonho assumido, sonhado com veracidade Alguém falou que de fato acaba virando verdade." E agora os rostos marcados insistem desajeitados, Pedem mais para alimentar, no peito, a chama o calor Aplaudem e quase imploram: -Repete moço, repete! Fala outra vez, contador! Sônia C. Prazeres ©

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Voz e Eco 84

Voz - 84

Brota, em ramo, da terra
Olhos mirrados de sede,
Selado, vendado e devoto.

Não se rega, nem se nota
Não se cria nem se morre!
Chão é mãe, não adota
Chão é pai, nem socorre.

Brota, seco, entre as pernas
Ventos há que semeiem
Ninguém planta nem colhe
Se pesar que apeie
Se chover que se molhe.

Que importa?
Pois brotou, que se cuide!


Gustavo Schramm

Eco - 84

Para esta crueza, calo.
Calo a boca de vergonha,
Calo nos pés dos eleitos.

A quem não nego, renego
Não sou água nem alimento.
Brota erva, nem daninha
Nem ungüento...

Ventos que causam
Se espalham, se desnorteiam;
Ninguém colhe, acolhe ou recolhe
Nem tento.
Se chover, se lamenta.

É frio?
Que venha o sol que isso esquenta.

Sônia C. Prazeres

Casinhas no morro

Casinhas no morro

Reflexo torto
De verba perdida...extorquida.
Casinhas de gente que insiste
E canta contente
Batuca e labuta
A vergonha da gente.
Casinhas pintadas, caiadas
Suspensas, mal equilibradas.
E a chuva que lava
Que rega o plantado
É perigo eminente gritado
Por todo canto ecoando.
Caiu trovoada,
Entornou enxurrada,
E quantas casinhas
Das gentes alegres
Das pernas fortes
E esperança sem morte,
Vão desabar das encostas
Deixando luto à amostra
Da cidade que passa
Distraída das coisas do alto
Entregando apatia
No ronco dos carros...
No véu de fumaça.

Sônia C. Prazeres ©

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Cárcere


Cárcere

Entre larvas e travas
E as extensões dos sorrisos
Fica o mundo que não buscas
E entregas de sobre aviso
Entre injustiças e medos
Ficam vilas, valas e segredos;
E a paz redunda num sonho
Artífice de tantos enredos
Celas guardando mazelas
Bandidos e heróis das vielas
E a alma, aturdida apavora
Quem anda lá se mistura
Sangue daqui e as vestes que usa
Quanto arde, dor invade...quanto chora.

Sônia C. Prazeres ©

domingo, 11 de novembro de 2007

Ave !

Ave
Os que vão morrer te saúdam
E te erguem as paredes
Da casa de luxo
Do teto que nunca terão.
Os que vão para o esquecimento
Sem nunca terem sido notados
Só sabem trabalho e migalhas de pão.
Os que vão morrer te saúdam
E limpam o chão onde passas
E lavam as roupas que vestes
E catam o lixo da porta
Que tua fartura arranjou.
Os que vão morrer te saúdam
E rezarão respeitosos
Na cova onde pousarás
E velarão os teus restos
Com o mesmo desdém
Com que os vistes também
Agora, e na hora de tua morte...
Amém.


Sônia C. Prazeres ©

sábado, 10 de novembro de 2007

Cansaço



Passa ligeiro,
Arranca a corrente
Avilta a alma
Não vê, não pressente.

Passa insolente
Arranha a face
Arranca o celular
Não usa disfarce.

Roubam o carro
Arrastam o menino
Como um trapo qualquer
Drogados sem tino

Param no ponto
Estapeiam e chutam
A moça indefesa
Sem chance de luta

Galgam palanques
Palavrório bonito,
Enganam, extorquem
Povo assustado, cansado...desiludido.

Sônia C. Prazeres